domingo, 11 de setembro de 2016

Um Pedaço de Teatro


Colocando “os pingos nos ‘is’ ”

  Olá, seja bem vindo (a) a leitura deste material.
  Aqui temos a intenção de compartilhar informações, pensamentos e fatos que possam colaborar com o fazer teatral de quaisquer pessoas que tenha a necessidade ou curiosidade de permear por este processo.
  É de suma importância explicar que processo é este. Trata-se de um projeto nomeado “Teatro Permanente de Rua”, onde o Grupo Teatro No Mi de Uberlândia oferece gratuitamente aos sábados aulas de teatro de rua. Dessas aulas, será desenvolvido o material a qual estamos nos referindo neste momento. O projeto é permanente, então não há prazo de conclusão ou mostra de resultados, tudo acontecerá no tempo natural, aplicaremos as aulas enquanto nos for permitido e pessoas se interessarem fazer as aulas. As aulas abordam teatro de rua, e sim, este é o nosso foco, porém trabalharemos informações de teatro em geral. E este material será atualizado naturalmente de acordo com a evolução de todo processo.
  Colocados os “pingos nos ‘is’”, uma longa jornada começa com um primeiro passo!

O Primeiro passo

  Primeiros dias da aula de teatro, o aluno muitas vezes está empolgado e até um pouco assustado. O que ele deve ter em mente?
 Comprometimento: esteja na aula de verdade, você não veio para aula para ficar sentado, dar justificativas e dizer que não consegue. Faça! Aja!
 Aqui não é lugar para deixar a vergonha te vencer, atores profissionais sentem vergonha e ficam tímidos, mas não perdem o controle.
 Evitem faltar e chegar atrasado.
Já coloque na sua cabeça que teatro é repetição. E também um grande desafio. Desafie-se a fazer o seu melhor e surpreenda-se.
 Fazer teatro vai mudar sua forma de pensar e compreender melhor até mesmo seus sentimentos. Mas não ache que só ir às aulas basta. Assista sempre que tiver oportunidade peças de teatro, as boas e as ruins. Observar é uma das características fundamentais de um bom ator.  Outra palavra que faz grandes atores é: Generosidade. Tenha em mente que você não é ninguém sozinho. Se não houver o outro, não há teatro.
 E precisamos ressaltar que: O aprendizado pressupõe de dedicação. Se você não está disposto a se dedicar, não vai aprender. 

Como nos organizamos e nossos objetivos:

Contribuir ao desenvolvimento e formação do caráter ;
- Melhorar e favorecer à dicção ;
- Estimular a memória, a atenção e a concentração;
- Fazer crescer a sua auto-estima;
- Combater a timidez e a vergonha;
- Ensinar a  relacionar-se com outras pessoas e a trabalhar em grupo;
- Favorecer ao auto-conhecimento;
- Despertar a consciência corporal e espacial e a coordenação motora;
 - Aproximar as pessoas da arte e reforçar o interesse  pela teatro;
- Ensinar a controlar suas emoções;
- Motivar o exercício do pensamento.

Módulo I – Jogos teatrais – Desenvolverão o ímpeto, atenção e concentração, ritmo, consciência espacial e de grupo.
Módulo II – Desenvolvimento cênico   Expressão corporal, criatividade, comunicação, consciência corporal, criação e desenvolvimento coletivo.
Módulo III – Criação  Ensaios, improvisações, estudo de marcas, textos e personagens.
Módulo IV – Atuação – Participar de alguma peça teatral desenvolvida durante a Oficina.
Módulo V  Produção e outros aspectos   Produção de espetáculos e criação/elaboração de tudo que for necessário ao fazer teatral. 
Lembrando que apesar de trabalhar em grupo, a análise é individual e o desenvolvimento (módulos*) pode ser diferente entre os alunos.


  Calma! Não se assuste. As aulas serão divertidas, terão jogos, você fará novas amizades e é certeza de que não se arrependerá de aprender teatro.
Então neste momento em que é dado o primeiro passo, onde foi decidido que você irá experimentar o que é fazer teatro, temos que falar algo sobre respeito e tempo:


  Conselho de Polônio a Laertes em Hamlet de Shakespeare
"... sê fiel a ti mesmo. E assim sendo. Jamais serás falso pra ninguém ..."

  Não perca seu tempo, não desperdice o tempo dos outros, alertamos para que ao tomar a decisão de fazer teatro, faça de verdade, não vá à aula somente por ir, por ser divertido, ou seja lá qual for a razão. Garanto que não se arrependerá. E sem mais perda de tempo falaremos a seguir do material de trabalho.

Material de trabalho

  Nas aulas é solicitado que as frequente com roupas leves para facilitar o trabalho, mas qual é o material de trabalho?
  O CORPO É UM INSTRUMENTO DE TRABALHO DO ATOR, pois o corpo é o ator. Agora o que fazer com o seu material de trabalho, é a grande tarefa de um ator.
  “Eu sou meu corpo, mas meu corpo não sou eu” (ARTAUD).
 Antonin Artaud escreve uma frase muito impactante, mas que também pode, à primeira vista, parecer não passar de um mero jogo de palavras.
A incapacidade de desvincular o corpo de qualquer identidade configurada como um “Eu fixo”, um “Eu” que vive através, em ou com este corpo é o desafio a superar.
 O ator tem que explorar e buscar o máximo de possibilidades de como usar este corpo para expressar, criar infinitas probabilidades e misturas e registra-las. O domínio deste processo dará ao ator um leque de repertório de criação para seu trabalho.
 Diria mais, sem o corpo dos atores não seria possível fazer teatro. E cada corpo possui sua própria dramaturgia: uma veia que se destaca, um sinal de nascença, um gesto peculiar - são as marcas dos caminhos por onde este corpo passou. Sua história é narrada pela sua vivência, escrita em seu templo, em sua pele. Um corpo também é escrito e reescrito em relação com a sociedade em que vive. O corpo pode ser construído de acordo com moldes oriundos do meio social em que o ator vivencia sua vida cotidiana e também sua subjetividade.

 Com o intuito de elucidar o que entendo como “corpo”, faço uso da definição de Linguagem Corporal de Patrice Pavis em seu Dicionário de Teatro: “O corpo do ator torna-se o corpo condutor que o espectador deseja, fantasia e se identifica (identificando-se com ele).” Para o autor, a linguagem corporal do ator em cena se transforma no corpo condutor da experiência corporal do próprio espectador.



Diálogos aleatórios*

A: Então meu material de trabalho é meu corpo?
B: Sim e não.
A: Sim e não?
B: Há muita coisa em jogo quando se faz teatro. Não é apenas seu corpo. O que vem a seguir, o que você tem que saber. É que seu corpo, seus sentimentos e a forma como você fará uso deles para conduzir o público, faz parte de um grande jogo.
A: Espera aí? Porque agora você está falando de jogo? Como assim tem muita coisa em jogo? Esse negócio de fazer teatro está me parecendo é coisa complicada!
B: Não acho que fazer teatro seja complicado, prefiro dizer que tem que ser intenso e verdadeiro.
A: Ainda estou confuso.
B: É natural, teatro vive de conflito!
A: Hã?
B: Rsrsrs (..)

Jogando com conflitos

  Não é difícil perceber que o Teatro envolve o corpo, a palavra, a voz, a caracterização, a ambientação e muitos outros recursos. Tudo acontecendo na hora! Mas será que é preciso disso tudo para ser teatro? Para ser teatro basta ter alguém que represente um papel, e alguém que assista a isso. Ou seja, basta um ator e o publico e que tudo seja feito ao vivo.
  A palavra teatro tem origem grega, “o theatron” e significa: “lugar de onde se vê”. É o local onde o público olha uma ação que lhe é apresentada. O teatro é mesmo na verdade ação.
  E quem age ou faz agir é o ator, o corpo condutor, seja em pessoa, seja manipulando um objeto, projetando uma sombra, sempre haverá o realizador da ação. Ação do latim “actus”, analisando a etimologia do inglês para ator que é “actor” pode ser chegar a essa conclusão de origem facilmente também.
  Mas de onde surge a ação? Ela está ligada, pelo menos para o teatro, ao surgimento de conflitos e a resolução de contradições. É o desequilíbrio de um conflito que força a(s) personagens a agirem para resolverem a contradição. Porém sua ação trará outros conflitos e contradições. Esta é a dinâmica incessante que cria o movimento da peça. Entretanto, a ação não é necessariamente manifestada no nível de intriga; às vezes ela é sensível na transformação da consciência dos protagonistas. Sentir no teatro, ainda mais que na realidade cotidiana, sempre é agir.

  Focaremos agora na palavra conflito. Ela resulta de forças antagonistas, ele acirra o ânimo entre duas ou mais personagens, entre duas visões de mundo, diante posturas, sentimentos diferentes ante uma mesma situação. A finalidade do teatro consiste na apresentação da ação, em acompanhar a evolução de uma crise, a emergência e a resolução de conflitos.



  Então definido que teatro é ação, que quem executa está ação é um ator e que é necessária a presença de um público, podemos avaliar que a junção de todos estes formam o que chamamos de o “jogo teatral”, em que atores e público formam os jogadores na partida da apresentação.
  O período de dedicação a ensaios, pesquisas, laboratórios e experimentações pode ser comparados ao treino de um atleta, é o momento em que se prepara para entrar em “campo” ou seja em cena. Este processo é bem conhecido no esporte, onde ninguém confunde o treinamento de antes da corrida com a estratégia da corrida.
  Agora, por que dizer que o público forma uma parte do jogo teatral? A relação ator/platéia trata-se de um jogo de levar uma informação, um sentimento, um questionamento e fazer uma troca entre a ação do ator e a reação do público, um jogo de compreensão mutua, uma sintonia.
  Porém, no teatro também há o jogo sem o público. Trata-se do jogo de preparação. Estes jogos teatrais são fortemente fundamentados nas técnicas de interpretação. Esses jogos possibilitam a experiência da interpretação teatral e de suas técnicas na forma de vivência e cooperação nos jogos de teatro. Dessa forma, possibilita que o teatro possa ser feito por qualquer pessoa que tenha capacidade de aprender a atuar e ter uma experiência criativa pelo teatro, confirmando que o teatro não tem nada a ver com o talento, mas sim com a dedicação.
  Jogos Teatrais são utilizados no teatro, sejam dramáticos (a partir de textos de teatro), cenas, esboços ou improvisações, ou também na forma de jogos lúdicos ou brincadeiras. 
  Mas não se enganem pois não são quaisquer jogos, mas uma preparação e vivência da prática teatral. Cada jogo é construído a partir de um FOCO específico, desenvolvido a partir de instruções e regras que levam o jogador a desenvolver formas da arte teatral. Sua base é a experiência prática e social do grupo e do ator, onde são fisicalizadas as possíveis experiências, que estão relacionadas em vários livros com as específicas instruções. Procura-se, com os jogos teatrais, desenvolver uma forma de prática teatral que não seja elaborada apenas na mente do ator ou jogador, mas por sua vivência improvisacional.




Diálogos aleatórios*

A: Então fazer teatro pode ser comparado a prática de um esporte?
B: Sim, mas gostaria que entendesse que o teatro não é só sobre atuar, é sobre compreender melhor o mundo e se tornar um humano mais pleno.
A: Nossa, profundo isso!
B: As coisas ensinadas aqui, não são apenas para se usar com teatro, é para a vida. Apesar de que acredito que no esporte também é assim, mas tentarei ser mais claro.
A: Por favor! Tente pelo menos. (risos)
B: O treinamento e a busca por conhecimento dentro nosso projeto não é para "criar" os melhores atores. Nosso desejo é que cada um seja melhor do que é agora, se superando no segundo seguinte. Tenho a intensão de instruí-los a livra-los de inúmeras influências externas da mídia e sociedade para que descubram como podem ser tornar plenos de vocês mesmos.
A: Isso está virando um daqueles textos motivacionais é?
B: Prefiro avaliar como adquirir uma lucidez das coisas, aprender a ser livre e organizar suas responsabilidades e escolhas, não é atoa que disse antes se tornar um humano melhor.
A: (...suspiro...)
B: Antes de qualquer comentário deixe que eu prossiga com o conteúdo e peço que tente fazer um paralelo das coisas que aprende nas aulas com o que acontece no seu dia a dia. Aprendendo a se colocar no "espaço" do teatro, imediatamente você irá ter mais desenvoltura na sua rotina.
A: Boa ideia.
B: O teatro é uma forma de autoconhecimento profundo e uma maneira de inserção social muito eficaz, mas continuemos...

O Processo de fazer teatro (Na verdade um dos processos)

  Então enumeremos aqui aos poucos (será inúmeras vezes revisado e reescrito este trecho) os passos a serem dados.

  Por que montar a peça?

  Primeiro, devemos tomar cuidado com a submissão do teatro enquanto atividade capitalista. Fazer algo por que está na moda, ou por entender que dará um retorno financeiro fácil, pode deixar o lado artístico. Está breve entrevista com o diretor de teatro, teatrólogo, fundador do Grupo Tá Na Rua, Amir Haddad discute questões importantes sobre o papel da cultura, da arte e do artista no mundo contemporâneo.


Qual é a ideia de "artista"?

Toda pessoa que se dispõe a trabalhar sua criatividade, sua sensibilidade, a organizar o seu discurso para ser capaz de dominar seus recursos expressivos a ponto de comunicar coisas mais importantes dentro do ser humano, aprofundando os níveis de relação que existem. Podem ser considerados artistas.

Qual o principal desafio de um artista?

Quem pensa em ser artista, deve pensar e ter a consciência de que seu papel na sociedade é bem maior do que aquele que ele representa em cima de um palco. Na maioria das vezes, o artista acaba sendo o "norte" de muita gente. Mais do que entreter, o artista tem papel fundamental na sociedade, pois é através dele que se é capaz de exorcizar todos os fantasmas da vida comum. É através da arte que muitas pessoas conseguem mudar os rumos de suas vidas, ou olharem a vida sobre um outro prisma. É claro que os problemas do mundo não podem e nem serão resolvidos pelo artista e sua arte, mas com certeza é através do artista que se retratam os problemas, mostram-se as tiranias, a violência da sociedade, bem com as "neuras", ambições, tristezas e alegrias dos seres humanos. Mesmo que a sociedade não veja o artista deste jeito,  e ache sempre o seu trabalho de menor importância, a função do artista estará presente ali, na vida de cada um, influenciando de uma forma ou de outra, mesmo que essa sociedade não queira admitir a importância que o artista tem na vida de cada um.

Por isso, quando lhe perguntarem porque você quer ser ou é um artista, responda-lhe que faz isso não só para exercitar o seu talento, ou massagear o seu ego, diga-lhe que você, enquanto cidadão, faz da arte e através dela, um instrumento de auxílio para uma sociedade melhor, mesmo que esta sociedade não saiba disso.

Triste é a sociedade onde a cultura não é enxergada como um instrumento de crescimento, não apenas cultural e intelectual, mas também como um instrumento de engrandecimento do ser humano.

'Não há nada pior do que aquele que usurpa a arte sem deixar um pedaço de sua alma. A arte é troca. Eu lhe dou todo o meu sangue e volto com um pouco de seu coração' - C.Tugren

  Qual a razão da escolha do texto?

  Então feita a reflexão anterior, é infinitos os motivos que levam a escolha de um texto. Evitaremos ao máximo “práticas vazias” ou exclusivamente um tipo de “teatro de mercado”. 

  Acredito que estejamos aqui para receber influências. Estamos sendo constantemente influenciados e influenciamos também outras pessoas. Por isso, em minha opinião, não pode haver nada pior do que assumir uma marca registrada, adquirir um traço inconfundível, ser conhecido por certas características. Quando um pintor chega a ser conhecido por seu estilo particular, cai numa prisão. Não pode assimilar o trabalho de mais ninguém sem perder a identidade. Isso não faz sentido no teatro. Em nosso campo de trabalho deve haver liberdade. Então dentro desta liberdade a escolha do texto seja um que já foi escrito por algum dramaturgo conhecido, ou não, seja um texto a ser criado,  ou um roteiro a ser improvisado, que contenha neste texto algo que "te mova", que mexa com o público, que provoque uma reverberação ao ser encenado.

  Se você ao decidir montar uma peça de teatro compreende a sua responsabilidade de comunicar ao outro, que seja um besteirol cheio de momentos de alívio, ou um texto mais complexo, busque uma verdade, um "porque" e com certeza não será uma prática vazia, um exercício de "ego em cena".

  Forma e conteúdo?

  Conteúdo e forma no teatro estão interligados, são inseparáveis e atuam sistematicamente um sobre o outro. Uma forma teatral não existe em si; ela só faz sentido dentro de um proposito, isto é, quando se associa a um conteúdo transmitido ou a transmitir. Diante do exposto, fica claro que o conteúdo, se não determina, é responsável ao menos por parte da estruturação da forma.

  Porém não se deve em momento algum sob pena de possivelmente desenvolver um processo falho, apresentar apenas o conteúdo, achando que por se tratar de um "assunto" admirável ele somente basta, ou  dar atenção apenas a forma, pois se é a forma que dita as regras, o conteúdo não tem muito valor.

  Pode parecer muito subjetivo, mas vamos buscar exemplos.

  O conteúdo pode ser um texto, um tema, uma situação a ser abordada entre outros conceitos.

 Já a forma teatral está em diversos níveis: no plano concreto, isto é, no lugar cênico (cenários, escolha de palco fechado ou rua)  e na expressão corporal; no nível abstrato, dramaturgia e fábula; e nas ações e nos elementos discursivos, como as palavras, sons, ritmos etc.

  Abaixo as imagens de 3 montagens diferentes do mesmo texto teatral:
Romeu e Julieta de Shakespeare





  E uma vez que foi decidido realizar uma montagem, e encontrada a forma de se apresentar o conteúdo desejado. Damos prosseguimento universo de criação teatral.

  Estudos e planejamento?

  Sim! É importantíssimo! Mesmo que não aja texto, tem que haver um planejamento e um domínio do conteúdo.

  Todos que participam do processo tem que saber qual é o "discurso" a ser realizado para não acontecer de em cena o elenco não estar afinado com o conteúdo e a forma de realiza-lo. E as estratégias para a realização da peça de teatro tem que estar claras para todos que se envolvem no processo. Sente e converse com a costureira que vai fazer o figurino e explique tudo por exemplo, descreva as possíveis cenas e movimentações, por mais que pareça supérfluo há detalhes que apenas quem tem verdadeira noção do real projeto podem realizar. Faça isso com todos, sem exceção. Com o profissional da gráfica, atores, diretor, cenógrafo e a tia do café se for o caso!

  O texto  e a dramaturgia?

  É problemático propor uma única definição de um texto de teatro. Pois o que difere um texto teatral dos outros tipos de texto? A encenação da lista telefônica não pode ser considerada uma piada e uma empreitada irrealizável! Todo texto é teatralizável, a partir do momento que o usam em cena.

  Então, independente da escolha do texto nos focaremos na dramaturgia do mesmo. Inicialmente, para definir a palavra dramaturgia recorre-se aqui ao Dicionário de Teatro de Patrice Pavis:

  A dramaturgia, no seu sentido mais genérico, é a técnica da arte dramática, que procura estabelecer os princípios de construção da obra, seja indutivamente a partir de exemplos concretos, seja dedutivamente a partir de um sistema de princípios abstratos. Esta noção pressupõe um conjunto de regras especificamente teatrais cujo conhecimento é indispensável para escrever uma peça e analisá-la corretamente.

  Parece complicado, mas não é, e com um pouco de paciência tudo vai se encaixando no lugar e a compreensão deste termo fica mais clara.

  Pode-se fazer teatro de tudo, mas mesmo assim a natureza da dramaturgia não deve perder a sua importância. O espetáculo pode não ter um texto escrito, mas um “texto” que se revela através do corpo e do movimento. Ou até mesmo em casos de espetáculos de improviso, em que há uma dramaturgia concebida por um raciocínio pré-estabelecido. Mas o que diferencia um romance de um texto teatral? O romance tem características de narrativas e o teatro exige uma ação. (Lembram da ação que falamos no começo?) E sem dúvida o texto de teatro contém mais brechas (“espaços vazios”) do que os outros textos, por pressupor um conjunto de signos não-verbais. Um breve exemplo é a luz durante uma encenação com a qual os signos verbais se relacionarão.
O que também diferencia o texto de teatro dos outros textos é sua forma. Contendo (não sendo obrigatório, o que fica a critério de cada autor) divisão em atos, cenas ou quadros e também informações em forma de rubricas* trazendo informações sobre: cenário, marcações, figurinos, sonoplastia, iluminação, características das personagens e entre outras indicações que o autor queira por no texto. Esta escrita dramática possui, então, características que facilitam a passagem do texto para a cena.

*Trata-se de informações textuais presentes no corpo da escrita teatral que não se destinam a serem pronunciadas no palco, mas que ilustram ao leitor a compreensão ou o modo de apresentação da peça pela perspectiva do dramaturgo/autor.

 Então, dramaturgia é o ofício de elaborar/adaptar/analisar um texto com o objetivo de transportá-lo para os "palcos".


  A composição de um texto de teatro traz a possibilidade de descrever a concepção em que o dramaturgo se coloca para organizar os acontecimentos e distribuir o texto das personagens. Se ele vai se comunicar direta ou indiretamente com o público, como vai ser tratada a questão de lugar, tempo e ação (as regras Aristotélicas), são escolhas diversas em que o autor se depara. Pois o texto de teatro tem o fundamento de uma escrita destinada a ser falada, que espera uma voz, um ritmo, uma “vida”.

 O trabalho do autor pode então definir as escolhas estéticas e ideológicas para orientar a interpretação do texto, revelando a sua forma teatral de mostrar um acontecimento e conduzi-lo ao público. Mas isso não impede o diretor, ou até mesmo o ator, de quando levar este texto à cena, que se interprete à sua maneira, apresentando de forma particular o conteúdo do texto criado. (Olha a forma e o conteúdo aí de novo!)







Quem é quem no elenco?



Necessidades e vontades?

Domínio do processo?

Dinâmica do coletivo?





Produção?

Execução?

E porque tem um ponto de interrogação no final de cada tópico?



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